Sunday, November 29, 2009

Time traveler

Acabei de ler este romance, que foi um exito tremendo nos EUA e foi recentemente adaptado ao grande ecran. Fiquei dividida, entre o completamente apaixonada pela historia e um pouco irritada pela falta de historia. O comeco do livro eh brilhante. As personagens sao originais, complexas, profundas, por um lado. Mas por outro lado... nao, sao personagens completamente banais. Nao estou a fazer sentido, eu sei. Mas foi isto que eu senti ao ler o livro.

A historia centra-se na relacao entre Clare e Henry. Clare ve pela primeira vez Henry quando ele tem 41 e ela tem 6. Henry ve pela primeira vez Clare quando ele tem 28 e ela 20. Porque Henry viaja no tempo, so que em vez de ser numa maquina a la Doctor Who, com todo o privilegio de escolher onde e quando aterrar, Henry viaja contra sua vontade e apenas consegue levar consigo o seu corpo, o que leva a que grande parte das suas travessias pelo tempo sejam passadas a tentar encontrar roupa, comida e abrigo. Tem uma doenca genetica que o torna "crono-desabilitado". Isto e alguns pedacos sobre terapia genetica, ratinhos mutantes, etc, eh o que leva algumas pessoas a categorizarem este livro como ficcao cientifica, mas o livro eh sobretudo uma historia de amor. A relacao que Audrey Niffenegger descreve seria perfeita, nao fossem as frequentes visitas de Henry ao passado e futuro, deixando Clare sozinha com os seus pensamentos.

A circularidade da relacao da-nos um certo descanso e ao mesmo tempo uma certa vertigem. Descanso porque desde cedo Clare sabe quem eh o homem da sua vida e tem a certeza de que se irao casar no futuro, porque afinal, o futuro ja aconteceu. Isto poupa-a a muita da incerteza sobre o amor que assola a maior parte das pessoas hoje em dia. Da vertigem porque o que ja aconteceu nao pode ser evitado, e isso nem sempre eh bom. Eh como se o principio e o fim acontecessem ao mesmo tempo, e isso da-me calafrios.

A historia tambem me deixou a pensar na incapacidade da maior parte das pessoas, com genomas completamente normais, de viverem no presente, e no seu habito de viajarem no tempo - sobretudo no que diz respeito a relacoes amorosas...
As vezes essas viagens tambem sao feitas contra-vontade, como acontece com Henry, e levam-nos a ver caminhos tortuosos, paisagens desoladas, mas outras vezes sao deliciosos passeios aos melhores momentos ja vividos entre duas pessoas.

Por isso digo que as personagens sao ao mesmo tempo complexas e banais. Niffenegger da-se ao trabalho de construir personagens com profissoes e personalidades fora do comum, uma historia fora do comum, para depois centrar tudo na velha questao "sera que eu estou a fazer a coisa certa?...". A diferenca entre o romance e a vida real eh que no livro a resposta eh geralmente dada por um Henry vindo do futuro ou do passado, enquanto que na vida real, we just keep wondering.

Enfim... Aconselhado para romanticos inveterados...

Friday, November 20, 2009

Doctor, doctor...


Como me apetece voltar a escrever! Hoje andei nas andanças pelos blogs que para aí há, e dei-me conta das saudades que tenho de mandar as minhas postas de pescada na internet. E assim decidi, talvez não muito sensatamente, voltar a escrever neste blog. E começo em português porque, meu deeeus, o meu português está enferrujado. Bem preciso de o treinar. Aceitam-se correcções... *corando*

Disse que a minha decisão não é muito sensata porque este ano, tcharaaaan, é o último ano do meu doutoramento. Isto é, é o último ano em que me pagam para fazer isto a que chamam ciência. Se isto é ciência não sei. Tenho as minhas dúvidas. Se é de facto o último ano do meu doutoramento, ainda mais dúvidas tenho. Mas lá que deixam de me pagar, deixam.

Mas comecemos pelo princípio… A ciência, em si, o saber mais sobre algumas coisas, ou descobrir o tamanho da nossa ignorância, isso ainda me fascina. O que não me fascina, é a luta diária contra a frustração, é o nosso trabalho valer tão pouco, o nosso tempo ser tão facilmente desperdiçado, às vezes por nossa culpa – decisões erradas que levam a becos sem saída -, às vezes por culpa dos nossos chefes – o que em última análise ainda é considerado nossa culpa porque fomos nós que não fomos espertos o suficiente para os contrariar na sua decisão – e às vezes por culpa do famigerado acaso. Tudo isto leva facilmente uma pessoa, já neurótica por natureza, a sentir-se tremendamente desmotivada, desvalorizada, e às tantas, desgraçada… Quando na realidade aqui não há desgraçados. Somos todos gente crescida, felizmente temos cabecinha para pensar e podemos fazer o que bem entendermos se para isso tivermos vontade. E senão também temos dois braços e duas pernas, toca a mexê-los! Mas por isso mesmo pergunto-me porque é que é tão fácil, como me dizia no outro dia um colega, «acreditar que não temos jeito para nada». Acho que não há aluno de doutoramento que não passe por esta fase.

No entanto, é fascinante a quantidade de coisas sobre as quais se fazem doutoramentos. Tenho um amigo que faz o seu em Filosofia Teórica. Até eu, que o faço em Biologia Teórica fiquei de cara à banda. Então mas há algo não-teórico em Filosofia?? Outros fazem doutoramentos em História, Economia (conheci recentemente um rapaz que faz a sua tese sobre fusões e aquisições de empresas – ele disse-me que os outros colegas de curso dele tinham escolhido fazer dinheiro).

Agora que penso nisso, os alunos de doutoramento parecem-me cumprir um papel fundamental na sociedade. São eles os que têm tempo, paciência, cabeça (big question mark there), e financiamento para se debruçarem sobre coisas que não lembram ao arco da velha mas que até podem ser bastante importantes, tais como… sei lá… A estrutura do DNA. Novas teorias económicas. Comparações de modelos de sociedade. Ética. Ecologia. Comportamento (humano e não-humano). Hoje em dia, em Biologia, embora não tenha aqui dados à mão para o provar, mas tenho a séria impressão de que 70% do trabalho realizado é feito por alunos de doutoramento e post-docs. Enfim, podem-nos parecer 4 anos deitados à rua, em que penámos como almas condenadas, em que sofremos stresses psicológicos estúpidos impostos por supervisores sádicos, e nos deparámos trinta mil vezes com a nossa própria idiotice e com o falhanço iminente, mas talvez isso sirva algum propósito, algum dia, a alguém. Muito provavelmente será a outro aluno de doutoramento, ao citar: Coisa et al. (unpublished work).

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