Como me apetece voltar a escrever! Hoje andei nas andanças pelos blogs que para aí há, e dei-me conta das saudades que tenho de mandar as minhas postas de pescada na internet. E assim decidi, talvez não muito sensatamente, voltar a escrever neste blog. E começo em português porque, meu deeeus, o meu português está enferrujado. Bem preciso de o treinar. Aceitam-se correcções... *corando*
Disse que a minha decisão não é muito sensata porque este ano, tcharaaaan, é o último ano do meu doutoramento. Isto é, é o último ano em que me pagam para fazer isto a que chamam ciência. Se isto é ciência não sei. Tenho as minhas dúvidas. Se é de facto o último ano do meu doutoramento, ainda mais dúvidas tenho. Mas lá que deixam de me pagar, deixam.
Mas comecemos pelo princípio… A ciência, em si, o saber mais sobre algumas coisas, ou descobrir o tamanho da nossa ignorância, isso ainda me fascina. O que não me fascina, é a luta diária contra a frustração, é o nosso trabalho valer tão pouco, o nosso tempo ser tão facilmente desperdiçado, às vezes por nossa culpa – decisões erradas que levam a becos sem saída -, às vezes por culpa dos nossos chefes – o que em última análise ainda é considerado nossa culpa porque fomos nós que não fomos espertos o suficiente para os contrariar na sua decisão – e às vezes por culpa do famigerado acaso. Tudo isto leva facilmente uma pessoa, já neurótica por natureza, a sentir-se tremendamente desmotivada, desvalorizada, e às tantas, desgraçada… Quando na realidade aqui não há desgraçados. Somos todos gente crescida, felizmente temos cabecinha para pensar e podemos fazer o que bem entendermos se para isso tivermos vontade. E senão também temos dois braços e duas pernas, toca a mexê-los! Mas por isso mesmo pergunto-me porque é que é tão fácil, como me dizia no outro dia um colega, «acreditar que não temos jeito para nada». Acho que não há aluno de doutoramento que não passe por esta fase.
No entanto, é fascinante a quantidade de coisas sobre as quais se fazem doutoramentos. Tenho um amigo que faz o seu em Filosofia Teórica. Até eu, que o faço em Biologia Teórica fiquei de cara à banda. Então mas há algo não-teórico em Filosofia?? Outros fazem doutoramentos em História, Economia (conheci recentemente um rapaz que faz a sua tese sobre fusões e aquisições de empresas – ele disse-me que os outros colegas de curso dele tinham escolhido fazer dinheiro).
Agora que penso nisso, os alunos de doutoramento parecem-me cumprir um papel fundamental na sociedade. São eles os que têm tempo, paciência, cabeça (big question mark there), e financiamento para se debruçarem sobre coisas que não lembram ao arco da velha mas que até podem ser bastante importantes, tais como… sei lá… A estrutura do DNA. Novas teorias económicas. Comparações de modelos de sociedade. Ética. Ecologia. Comportamento (humano e não-humano). Hoje em dia, em Biologia, embora não tenha aqui dados à mão para o provar, mas tenho a séria impressão de que 70% do trabalho realizado é feito por alunos de doutoramento e post-docs. Enfim, podem-nos parecer 4 anos deitados à rua, em que penámos como almas condenadas, em que sofremos stresses psicológicos estúpidos impostos por supervisores sádicos, e nos deparámos trinta mil vezes com a nossa própria idiotice e com o falhanço iminente, mas talvez isso sirva algum propósito, algum dia, a alguém. Muito provavelmente será a outro aluno de doutoramento, ao citar: Coisa et al. (unpublished work).
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