A minha avo
A minha avo tem maos de princesa, apesar de nunca o ter sido. Tem olhos azuis do mar que a viu nascer, e a voz suave dos ventos que passam por esta terra sem deixar grande marca. A minha avo le livros. Le tudo o que lhe passa pelas maos, desde Jackie Collins a Saramago, passando por Salman Rushdie.
A minha avo eh daquelas pessoas que tratam o Eca de Queiroz por tu – “Nao ha ninguem como o Eca…” e cujos olhos se fecham quando pensa em tempos antigos. A minha avo escrevia. Agora ja nao escreve, mas nos tempos em que a criatividade lhe corria nas veias, escrevia livros, romances de cordel na maioria, mas livros, que as suas irmas encadernavam com prazer e gostavam de mostrar a toda a familia. Menos ao meu avo, que nunca leu um unico texto da minha avo.
A minha avo resiste a mudanca como a rocha resiste a agua. Lentamente, a coisa vai. Eh orgulhosa da sua neta que foi para tao longe, e da sua boca nunca saem as palavras “devias arranjar um marido e assentar, filha”. Em vez disso diz “Es uma lutadora, filha”. Mas a sua televisao so tem dois canais, que eram os que existiam quando ela a comprou. Ao principio desconfiava do Multibanco, mas agora ja se rendeu as maquinas que tanto trabalho lhe poupam.
Quando o meu avo morreu, eu nao dava nada pela minha avo. Agora sei porque. Porque sempre a vi a sombra do meu avo. E agora sei porque estou a escrever isto, agora sei porque de repente me lembrei que fizeram ha pouco anos que o meu avo morreu. Eu devia ter uns 12 ou 13. E pensei na altura que nao restaria muito tempo ate a minha avo se juntar a ele, tao destruida pelo desgosto eu a vi. Passaram 14 anos desde entao. Vivemos todos a nossa vida, certamente nao da mesma forma que se ele ainda estivesse connosco, mas vivemo-la. Fomos capazes de prosseguir. Inclusive a mulher que tao fragil parecia, arranjou forcas para continuar. E agora penso, quem era a pedra de base da familia? Quem eh o mais forte? Aquele que luta contra moinhos de vento, ou aquele que dedica a sua vida aos seus amores e aos seus livros?
A minha avo resiste a mudanca como a rocha resiste a agua. Lentamente, a coisa vai. Eh orgulhosa da sua neta que foi para tao longe, e da sua boca nunca saem as palavras “devias arranjar um marido e assentar, filha”. Em vez disso diz “Es uma lutadora, filha”. Mas a sua televisao so tem dois canais, que eram os que existiam quando ela a comprou. Ao principio desconfiava do Multibanco, mas agora ja se rendeu as maquinas que tanto trabalho lhe poupam.
Quando o meu avo morreu, eu nao dava nada pela minha avo. Agora sei porque. Porque sempre a vi a sombra do meu avo. E agora sei porque estou a escrever isto, agora sei porque de repente me lembrei que fizeram ha pouco anos que o meu avo morreu. Eu devia ter uns 12 ou 13. E pensei na altura que nao restaria muito tempo ate a minha avo se juntar a ele, tao destruida pelo desgosto eu a vi. Passaram 14 anos desde entao. Vivemos todos a nossa vida, certamente nao da mesma forma que se ele ainda estivesse connosco, mas vivemo-la. Fomos capazes de prosseguir. Inclusive a mulher que tao fragil parecia, arranjou forcas para continuar. E agora penso, quem era a pedra de base da familia? Quem eh o mais forte? Aquele que luta contra moinhos de vento, ou aquele que dedica a sua vida aos seus amores e aos seus livros?